quinta-feira, 3 de março de 2011

Voltando ao passado

Fecho os olhos. Não posso dormir, nem quero. Passo a refletir. Tento me lembrar o que aconteceu. Quem me matou. Como meu coração morreu. Estou cansado. Cansado de incertezas. Olho para dentro e vejo flash's. Memórias de um ser que a muito não sou eu. Mas suas memórias são imagens turvas. Vejo aquela a quem amei, Seu nome era 'B'..., de fato não consigo lembrar. Mas quem eu era, não consigo me lembrar. 

Março, 2 horas e 45 minutos, madrugada de sexta feira.

Estou em um prédio abandonado. Isolado a 2 dias. Sozinho. Um fardo que trago da outra vida, solidão.
Volto a pensar na outra vida. Não vejo nada, o passado não me ajuda em nada. Porque estou aqui então? Porque as vezes bate e as vezes morre meu coração?

Novamente um farfalhar de asas. Asas negras. Olhos de brasa. Desta vez uma voz infernal. Um nome se repete várias vezes no meu pensamento. Um nome nunca antes ouvido. Salatiel. Ao pronunciar sue nome vejo um sorriso. A criatura tem dentes pontudos. Um vampiro? E como se dentro da minha cabeça, responde. Uma fera meu irmão. Uma besta se preferirdes. Tenho tua alma em minhas mãos, já teu coração renegaste. És um morto na terra dos que vivem, és ninguém no coração de muitos e alguém na história de vários ninguém. Somos milhares, somos semelhantes. Mas tú és especial. Renasceste com coração pela metade. O que lhe dá o dom de andar entre os vivos e por eles ser visto, mas também nossos dons. Nasceste para comandar uma guerra que se dissemina por gerações. A guerra entre o bem e o mau. És aquele grande ser, o nosso General.

Quantas asneira eu ouvi, ainda que sem alma ou coração, não iria eu começar tal revolução. Não pelos dizeres de uma besta, não pelos valores de outro. Sou sim alguém que é vazio por dentro. Mas não serei eu a semear o tormento que precisas pra sobreviver.

E com um rugido estridente Salatiel faz brilhar suas brasas, e um farfalhar faz abrir asas gigantescas e negras como as de um anjo melado em pixe. Num segundo estava a minha frente. No outro sumira novamente. 

Fecho os olhos, passo a me concentrar, devo eu estes dons aceitar. Posso ouvir, algo se aproximando rápido como uma bala, um torpedo ou míssil. Posso sentir na pele um calor vindo do que deve ser o inferno. Na mente a imagem de Salatiel. Um anjo caído. Posso entrar em sua mente. Não mais irei tremer, nunca mais irei chorar. Nunca mais irei te reencontrar... um descuido e a imagem de 'B' me vem a mente. Salatiel me acerta como a um boneco de pano, lançando-me longe, ferindo-me superficialmente. A besta dá um sorriso e mostra as presas. Meu coração bate acelerado e descompassado. Diferente da fera sou um humano e tenho emoções, ou fui humano e me restaram frustrações. Se estou aqui para guiar, não posso cair para um desajuste dos mundos.

Se este mundo é o que tenho agora, então farei desta terra a minha terra, sem sentimentos puros. Só ódio e rancor me fortalece. Desconto a minha raiva em quem me enlouquece.

Salatiel é como te chamam. Uma besta ou um anjo caído. Em breve um anjo arrependido. Não me conheces a ponto de saber que nunca iria te guiar, não uma besta que posso facilmente derrubar. E como da primeira vez, Salatiel some no ar. Desta vez de olhos aberto passo a lhe seguir, posso ver riscos no ar, sua grande velocidade já não é tão grande aos meus olhos. Prosto meus braços a frente... lá vem ele novamente, pronto a me golpear, intenso em fúria. Impactante. Mal conseguiu me empurrar. 

Não te temo besta imunda e insana. Não me dirijas mais uma palavra profana. Este aqui é o meu lugar e não tomarei partido de tua guerra. Frustrado, o Anjo negro sumira. Nenhum som, nenhum sinal, algo errado... algo anormal.









Continua...

Temores – Parte 2

Pois eis que na minha frente pairam brasas de fogo, duas esferas pequenas tão reluzentes quanto o sol. Meu corpo tremendo intensamente, a bravura se vai e o medo é minha corrente. Novamente o som ecoa, e um farfalhar de asas, é um anjo, mas não é branco e nem brilha, não é um anjo nem mesmo uma maravilha. Um demônio talvez. A voz diz com tom valente. Porque teme que eu entre em tua mente? Maldito medo que me toma por inteiro... Aquele ser não chega a se identificar e antes que eu piscasse, esvaíra-se do meu olhar. Nem mais corpo nem cutucar. Estaria eu prestes a surtar? 

É então que recobro a razão e os movimentos do meu corpo. Fui testado e fracassei, testado para que e porque eu não sei. Ainda chove bem forte, parece que nunca vai parar. Nos céus os raios começam a se chocar. Um espetáculo pavoroso da natureza. Espalha o pânico e avareza. E como se fosse tudo normal, pessoas começam a sair... Dentre as várias que vejo, um rosto me é familiar. O rosto que não consigo me lembrar. Mas meu coração bate forte, ou bateria, se vivo eu estivesse, quem me dera ter essa sorte. Uma mulher que mais parece um desenho. Em meio a trevas um sorriso brota de seu rosto. Em meio a escuridão uma luz invade meu peito, e por um instante sinto como se batesse meu coração. Sei exatamente quem é ela. Esta mulher é aquele que em outra vida amei, mas não tive coragem de lhe contar. Esta mulher é aquela que eu teimo em me aproximar. Seu nome... é... não consigo me lembrar, mas aquele colar no sue peito, Aquele 'B' de prata deve ser uma inicial. Talvez sua, talvez não... Codinome 'B' é como devo lhe chamar.

Dores no corpo, uma sensação estranha. Se estou morto como posso sentir alguma coisa? Novamente um cutucar, um estampido que posso ouvir, provindo de meu peito. É de fato meu coração. Algo reativa minha vida. Algo que não posso explicar. Quanto mais me aproximo de 'B', mais vulnerável posso me tornar.

No ar posso sentir seu perfume, que aroma delicioso, não ei de esquecer, e tornarei a procurar. Não importa onde vás, eu saberei te encontrar.

Logo a chuva cessa, as nuvens começam a se desfazer. Os raios não mais são visíveis, mas o som dos trovões ainda ecoa. Não sinto sono ou pesar, não sinto cansaço, mas sei que devo me abrigar. Já é tarde... Vejo um prédio abandonado, condenado a demolição. Não há lugar melhor para esconder esta abominação. Um ser sem alma, um homem mascarado.










Continua...