terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Temores – Parte 1

22 de Fevereiro, 19 horas e 21 minutos.

Chove forte, novamente. Não sei dizer a quanto tempo. Nem sei dizer por que relato isso. A chuva me agrada, me renova as energias. Não posso te explicar como ou por que. Não posso explicar muitas coisas. Não sei por que voltei. Não sei o que fiz de errado em vida. Eu sei quem fui, já não sei quem sou.

Sou a máscara, personagem sombrio de histórias em quadrinhos. Quisera eu ter poderes. Para o bem ou para o mau, uma aventura no final. Nesta terra sem lei, o mais esperto é rei.

As roupas não mais são problema. Não são luxo ou dilema. O cheiro que me cerca não é perfume ou odor de lixo. Exalo a morte. Quem virei? Definitivamente eu não sei. Mas sei que não voltei de graça, ainda há algo que devo fazer. Algo antes do amanhecer.

Caminho lentamente pelas ruas. Não tenho morada. Não tenho rosto ou identidade, perdi a personalidade. Não perdi a força ou a fúria, não perdi o senso de distinção. Só perdi meu coração. Sua alma.

Tarde passada, uma enrascada. Um guarda atormentado deixou-me atordoado. Uma saraivada de tiros levei, de uma forma mágica escapei. Em fração de segundos um sobretudo voava todo perfurado, esmaecendo ao chão. Tão rápido fora minha reação. Pelas costas dele ataquei, não entendo como ali cheguei. Velocidade sobre-humana. Sua cabeça decepei. Um único golpe. Nenhuma reação. Não mais ouvi bater seu coração.

Continuo a caminhar pela noite, sozinho e sem rumo. Apenas uma péssima sensação de estar sendo seguido. Olho para os lados, alguns prédios, vários arranha-céus. Luzes acesas. A cidade nunca dorme. A sensação permanece. Para alguém que nada sente, um cutucar na cabeça passa a incomodar. Viro para trás, não haveria ninguém na rua. A cidade estava nua. Um vulto. Movendo-se de um lado a outro. Em uma velocidade que somente um semelhante deve acompanhar, velocidade que não me escapa ao olhar. Aumenta a sensação. Uma voz ecoa dentro de minha cabeça. Dizendo-me para parar. Decidi arriscar. Parei e ali mesmo esperei. Nada, nenhum movimento. Apenas o sussurro do vento. A chuva cai intensa e se torna temporal. Eu perdido no escuro, temendo o surreal. Um vento forte vem de trás. Viro-me para olhar. Nada. Quando torno a me virar, uma surpresa, alguém encapuzado a minha frente. Com corpo magro e meio diferente. Olhos vermelhos é tudo que consigo ver. Mal percebi o meu corpo estremecer. Como posso me apavorar? Não sou vivo nem morto, sou um ser desalmado com meu rosto mascarado.













Continua...

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

A parte mascarada

Ainda que asas me fossem concebidas, ainda assim não seria eu um anjo. Longe disso, talvez um demônio, mas não um seguidor do obscuro ao qual todos temem. Um demônio diferente. Um em forma de gente. Aquela que te toma o coração, e em fração de segundos o despedaça no chão. 

21 de Fevereiro, 14 horas e 9 minutos.

O sol é escaldante, os raios que dele provém ferem minha alva pele, torturam minhas retinas. Já não sou da luz há muito tempo. Já não vivo esse momento. Ando por ai, esgueirando-me de beco em beco. Vejo pessoas assustadas, pessoas preocupadas. Me olham com pavor. E deveriam, Vêm apenas uma máscara, nenhum rosto, nenhum som. Um sobretudo negro num calor infernal. Minha cidade é tão bela, mas o calor que aqui emana, é descomunal. 

Caminhando a passos largos. Sou andarilho do dia e senhor da noite. Não há lugar para sono. Não nesta pós-vida. Ouço passos se aproximando. Sequer me interessei em olhar. Virando a esquina sumirei, e teus olhos não irão me encontrar.

Um som estrondoso. A voz de um policial. A máscara o assusta e traz pânico a todos, um louco, um sádico, o que devem pensar? Não me cabe tal afronta, não me fiz amedrontar. Parei em sua frente. Me virei sem pestanejar. Sua reação é energia a qual vou me emaranhar. Uma cara aparvalhada de um homem da lei. Vislumbrando um desalmado que se encontra mascarado.

- Senhor, a máscara... Podes retirar? Diz o oficial da lei com a arma empunhada... Minha identidade ameaçada. Uma face a qual devo preservar. E como resposta lhe digo... - Vá embora e não torne a incomodar! Pobre homem, começou a tremer, e tentou me assustar, engatilhando seu revólver, só conseguiu me irritar.

Não sou fora da lei, mas a mim ela não se aplica. Não sou bandido de quinta, sou a besta que te alucina. Os teus sonhos roubarei, pobre e tolo homem da lei. Tua alma vou ceifar, mas tua vida irei poupar. O homem dispara, mas o que pode ferir senão a carne. Então passo a me mover, sua alma vou comer. Em questão de segundos, 8 disparos. Em questão de segundos, um mascarado ao chão. O homem vem verificar se minha vida pode retirar. E quando bem perto se inclina, sua mente se alucina. Não é um corpo. Apenas um sobretudo em cima do lixo. Onde estaria o mascarado? Pobre coitado. Seu pescoço foi ceifado. Uma vida se foi, uma alma perdida. Nenhuma pessoa arrependida.

Sou assim, um homem sem coração, a procura de você. A razão do meu viver. E vivo após a morte, cada dia a esperar, o momento oportuno que irei te encurralar. Eu preciso de minh'alma pra bater meu coração. Eu preciso ter de volta... minha doce emoção.

Como vos disse anteriormente caro leitor, um dia fui apenas todo amor. Mas hoje sou vazio. Sem esperança ou sentimento. Hoje vivo pelas ruas, esperando o momento. No que deves acreditar, não irei lhe indicar. Seu caminho a tomar, em um pesadelo vou mostrar. Espera até mais tarde e irei te encontrar.



Continua...

domingo, 20 de fevereiro de 2011

A Origem

Domingo, 20 de fevereiro. 21 horas e 59 minutos.

Nesse exato momento renasce um ser há muito esquecido. Um ser das sombras que vivera adormecido. Um ser cujo propósito em vida fora amar. Cuja vida agora se resume a assombrar. Desprovido de alma ou qualquer sentimento, pronto para trazer apenas caos e tormento. Um mascarado, um Desalmado. Venho vos dizer que não sou mau, apenas sigo meus instintos. E os atos que por ventura cometo, não são praticados por mim, mas pela máscara que oculta o horror de minha face. A face não vista por fora, mas a interior. A alma. A qual não habita estas entranhas.

Chove forte lá fora. Os raios rasgam a escuridão, atravessando a imensidão do céu. Os trovões bradam alto. Chove sem cessar. Para proteger meu corpo da gélida chuva, apenas minhas roupas negras, um sobretudo de couro reluzente e um coturno de borracha estilo militar. Mas para que tanto, se o gélido toque da chuva não pode alcançar o íntimo de meu coração, quem dirá esfriar minha alma.

Tenho sede. Sede de sangue. Não sou um vampiro famigerado, não sou uma dessas fábulas. Apenas um homem normal, apenas mais um de vós. A diferença entre nós é que já tive um coração e uma alma. Já fui um dentre os milhares rostos de celebridades. Hoje você não vê nada, além do que lhe permito ver, e não imagina mais do que te faço pensar. A sede de sangue é também necessidade de vingança, metáforas, escolha o que preferir, a verdade e que não vou lhe sugerir um termo ou uma razão. Te passarei o que me resta de emoção.

Razão é sentimento de culpa, sentimentos são sensações abruptas que já não possuo. Desejo me vingar. Não de você, nobre leitor, não de uma mulher, tampouco de todas. Quero me vingar de um mundo cujos sonhos me arrancou. Um mundo que jamais me perdoou. Errei tanto quanto todos vós. Errei em vida muito mais. Após a morte o que não tive foi a paz.

Mas enfim renasci. Cabelos escuros. chacoalham com o vento. A tempestade é a orquestra fúnebre da minha vida. A minha morte. Voltei como arauto. Não seifarei tua vida, mas todas as tuas alegrias, tomarei a força os teus sonhos...

Valoroso mundo, me aguarde. Reescreverei tua história, enquanto caminho pelas ruas. Na noite mais sombria e escura, estarei eu. Clichê de um perdido. Sou um Desalmado arrependido. Um homem mascarado. Quem me dera ser alado.











Continua...

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Carta de Apresentação...

Caros leitores,

Começo hoje por vos atormentar de uma maneira amigável. Trazendo à tona a doce verdade que envenena e amargura nossas vidas. Voltados a busca pela felicidade emanamos ódio e destruição. Falar-vos-ei por meio de poesia, vejo como modo simplório de aliviar a negação, tornar prazerosa a nossa relação de escritor/leitor. Espero tocar profundamente teu coração, prevenindo-lhe ao tormento da alma que me fora arrancada. Não medirei pois as palavras a serem usadas. 

Desde já devo me apresentar.

Sou o Desalmado, aquele cujo coração fora arrancado...
de dentro do peito do garoto sujeito...
Um homem cuja face não transmite emoção.
Um ser que perdeu o coração.
Melhor não ter a quem amar...
Bem melhor não mais se magoar.
No meu ser já não existe dor.
Neste ser não tem lugar para o amor.
Esta face que insiste em amar...
Esta face me impus a mascarar.
Mesmo os olhos que não mentem...
Mesmo estes devo ocultar.
Visando não mais me apaixonar...
De forma alguma irei me entregar.
Ainda que eu expurgasse todos os demônios deste buraco no peito.
Jamais retornaria a amar daquele jeito.
Há um vácuo que toma meu corpo.
Um vácuo que a máscara há de suprir.
Se fiquei ou não um sádico pirado...
Não é culpa minha por ser
Um Desalmado Mascarado.

Desalmado Mascarado