22 de Fevereiro, 19 horas e 21 minutos.
Chove forte, novamente. Não sei dizer a quanto tempo. Nem sei dizer por que relato isso. A chuva me agrada, me renova as energias. Não posso te explicar como ou por que. Não posso explicar muitas coisas. Não sei por que voltei. Não sei o que fiz de errado em vida. Eu sei quem fui, já não sei quem sou.
Sou a máscara, personagem sombrio de histórias em quadrinhos. Quisera eu ter poderes. Para o bem ou para o mau, uma aventura no final. Nesta terra sem lei, o mais esperto é rei.
As roupas não mais são problema. Não são luxo ou dilema. O cheiro que me cerca não é perfume ou odor de lixo. Exalo a morte. Quem virei? Definitivamente eu não sei. Mas sei que não voltei de graça, ainda há algo que devo fazer. Algo antes do amanhecer.
Caminho lentamente pelas ruas. Não tenho morada. Não tenho rosto ou identidade, perdi a personalidade. Não perdi a força ou a fúria, não perdi o senso de distinção. Só perdi meu coração. Sua alma.
Tarde passada, uma enrascada. Um guarda atormentado deixou-me atordoado. Uma saraivada de tiros levei, de uma forma mágica escapei. Em fração de segundos um sobretudo voava todo perfurado, esmaecendo ao chão. Tão rápido fora minha reação. Pelas costas dele ataquei, não entendo como ali cheguei. Velocidade sobre-humana. Sua cabeça decepei. Um único golpe. Nenhuma reação. Não mais ouvi bater seu coração.
Continuo a caminhar pela noite, sozinho e sem rumo. Apenas uma péssima sensação de estar sendo seguido. Olho para os lados, alguns prédios, vários arranha-céus. Luzes acesas. A cidade nunca dorme. A sensação permanece. Para alguém que nada sente, um cutucar na cabeça passa a incomodar. Viro para trás, não haveria ninguém na rua. A cidade estava nua. Um vulto. Movendo-se de um lado a outro. Em uma velocidade que somente um semelhante deve acompanhar, velocidade que não me escapa ao olhar. Aumenta a sensação. Uma voz ecoa dentro de minha cabeça. Dizendo-me para parar. Decidi arriscar. Parei e ali mesmo esperei. Nada, nenhum movimento. Apenas o sussurro do vento. A chuva cai intensa e se torna temporal. Eu perdido no escuro, temendo o surreal. Um vento forte vem de trás. Viro-me para olhar. Nada. Quando torno a me virar, uma surpresa, alguém encapuzado a minha frente. Com corpo magro e meio diferente. Olhos vermelhos é tudo que consigo ver. Mal percebi o meu corpo estremecer. Como posso me apavorar? Não sou vivo nem morto, sou um ser desalmado com meu rosto mascarado.
Continua...



